Os seres veneráveis incluem divindades, que personificam fenômenos da natureza, e ancestrais, associados a elementos estruturantes da sociedade. O princípio de senioridade, um dos mais estimados na África, determina que os mais velhos ocupem postos hierárquicos superiores e que os mais jovens respeitem-nos por sua experiência e sabedoria, desde que a idade traga valores como um grande número de descendentes e condições materiais satisfatórias de vida e virtudes como paciência. Na religião dos orixás qualquer indivíduo notável, dotado de uma existência plena e de uma morte suave em idade avançada, pode integrar o corpo dos ancestrais veneráveis da humanidade, desde que seus rituais fúnebres sejam realizados. Os ancestrais masculinos têm sua instituição em diversas sociedades, como Egúngún, Ìgunnukó, Oro e Agemo. Os ancestrais femininos, as Ìyá-Agbà (Mães Anciãs ou Veneráveis Mães Anciãs), também têm sua instituição em diversas sociedades, entre as quais Gèlèdé.
A palavra Egúngún designa, ao mesmo tempo, um orixá, o conjunto dos ancestrais masculinos da humanidade e o conjunto dos ancestrais masculinos de uma família; é derivada de egún, que significa osso ou esqueleto. No entanto, enquanto por egún se entende um ancestral em particular, um antepassado já-ido, habitante do orun, que pode se manifestar no aiye, e que pode não ser venerável, Egúngún ou Babá-Égún designa toda uma coletividade de seres veneráveis.
Nos cultos aos ancestrais masculinos, Egungun ocupa o lugar central. Os ancestrais permanecem junto a seus descendentes e interferem em todos os âmbitos da vida pessoal e familiar de cada um deles, apaziguando ânimos, atenuando discórdias, estimulando a solidariedade, o espírito de unidade e a harmonia, renovando a energia exigida para o trabalho e interferindo em questões de ameaça de desagregação familiar, em casos de disputa e em problemas de herança, entre tantas possibilidades. Com voz rouca ou utilizando tons agudos, trepidantes, sibilantes ou nasais, previne e ordena, e sua palavra é aceita e respeitada.
A presença de Egungun na vida cotidiana de seus devotos mantém viva a relação de respeito e reverência aos mais velhos: apenas esta razão justifica o culto a este grande orixá. Mas o culto a Egungun possui, entre outros, o objetivo de corrigir efeitos de uma herança de caráter espiritual que se reflete em desequilíbrios de toda ordem: física, emocional, espiritual. Cada indivíduo recebe de seus antepassados uma herança biológica, emocional e espiritual, uma carga genético-espiritual/emocional. O culto a Egungun possibilita agir retroativamente no sentido de eliminar fatores desfavoráveis ocorridos ao longo das sete gerações anteriores de uma pessoa, dos quais decorreram dificuldades, doenças e problemas de toda ordem em sua vida. Esse culto também possibilita resolver conflitos familiares vividos por pessoas das gerações passadas para restabelecer o equilíbrio perturbado.